São
muitas as lembranças da minha encarnação como escravo em uma fazenda de café no
interior paulista. O som da chibata, os gritos dos feitores que saíam à caça
dos escravos fugidos, as amas de leite obrigadas a amamentar os filhos da
sinhá. Lembranças pungentes de muito sofrimento. Quando a princesa Izabel
assinou a Lei Áurea, eu estava velho e muito doente.
A senzala era o único lugar onde o negro conseguia ser livre. Minha história de
vida foi muito triste, mas aprendi muito. O sinhô era um homem muito refinado e
não me tratava mal, mas a sinhá era uma mulher muito infeliz. Seu coração cheio
de fel não sabia amar. Era temida e detestada. Por muito pouco, mandava
chicotear os escravos da senzala e o sinhô fazia todas suas vontades.
Negrinhos eram afastados das suas mães, velhos escravos iam para o tronco e as
escravas caseiras tremiam com as ordens da caprichosa sinhá. Eu não me queixava
e jamais cultivei o ódio e a vingança. Alguns escravos odiavam os senhores com
todas as forças até à morte.
No plano espiritual, continuavam a perseguição perturbando os senhores com a
força da magia negra e da vingança. Como é bom ser bom! Como é triste ser mau!
Quantas lágrimas e sofrimentos os senhores plantaram através de suas atitudes.
No entanto, todos caminharemos para a Eterna Felicidade! O caminho mais sublime
é o Amor, mas alguns só evoluem através da Dor!
Eu era forte e jovem, mas quando meu grande amor foi vendido, capricho da
sinhá, minha saúde nunca mais foi a mesma. Minha vida mudou bastante e o meu
consolo eram as rezas. Jamais cultivei a revolta ou a vingança. Os Orixás me
davam a paz e o consolo para suportar as provas daquela encarnação.
Pior que a escravidão são os grilhões da maldade e do preconceito. Muito pior
que nosso sofrimento era o peso dos pecados daqueles que oprimiam seus irmãos
de cor.
No dia 13 de maio, a alforria! No entanto, as lembranças marcaram minha vida
para sempre. Foi minha encarnação mais proveitosa. Nessa vida de martírios,
cultivei a renúncia e a humildade.
Quando desencarnei, meu grande amor estava à minha espera. A linda escrava que
eu amei e foi vendida já estava no Plano Espiritual ansiosa pelo meu retorno.
Somos todos irmãos! Somos todos iguais!
Muito tempo se passou e agora estou novamente na Terra. Não como espírito
encarnado, mas como pai velho trabalhando nos terreiros de Umbanda. Minha
vestimenta astral é a de preto velho. Escolhi essa missão para estar mais perto
dos meus filhos de fé. Muitos precisam de libertação, da alforria da paz e da
fé. Essa é a missão dos pretos velhos! Conselho, resignação, amor e paz! Limpar
com a fumaça do cachimbo os miasmas do mal e da doença.
Aceitei essa tarefa sublime por muito amar a Humanidade. Conheci o sofrimento,
a humilhação e a pobreza.
Minha mensagem é de libertação!
Filho de fé liberte-se dos grilhões do orgulho e do egoísmo. Se você está
sofrendo, não desanime! Confie no Pai Oxalá que tudo vê e tudo sabe! Faça sua
parte no aprimoramento espiritual e na reformulação das suas atitudes.
Liberte-se das vibrações negativas do desânimo, da tristeza e do pessimismo.
Ame a Terra! Colabore para que nosso planeta melhore cada vez mais e seja um
grande Lar de Amor! Liberte-se do peso da angústia através do Amor! Perdoe seus
inimigos, porque Oxalá é o exemplo de Perdão e Misericórdia!
Desejo que Oxalá o ilumine hoje e sempre! Nascemos para vencer e evoluir!
Nascemos para conviver com Amor e tolerância! Somos todos irmãos! Nascemos para
cumprir apenas uma passagem! A verdadeira vida é a vida espiritual!
Pai João das Almas
(Mensagem psicografada por Sandra Cecília)
esses guias de pretos velhos só vem pra enriquecer cada vez mais a nossa Umabanda
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