Um aprendizado,
sem exagero nenhum, único, especial e essencial.
Espero que gostem
e que compartilhem no dia a dia a verdadeira essência da Reforma Íntima, aquela
tão mencionada em todos os terreiros, centros, templos, tendas ou casas santas.
Em 1941, a viúva
de José Cândido Xavier, Geni Pena, enlouqueceu. As rezas, os passes, as sessões
de leitura do Evangelho no Centro Luiz Gonzaga foram inúteis. Chico teve de
internar a cunhada num hospício em Belo Horizonte. Arrasado, ele acompanhou a
doente até o quarto, ficou ao seu lado algumas horas e voltou para casa à noite.
Estava arrasado. O filho caçula da moça, paralítico, chorava na cama, sozinho.
Chico se ajoelhou
e começou a rezar. As lágrimas corriam, ele se lembrava do irmão, se sentia
culpado, impotente.
De repente,
Emmanuel entrou em cena, incomodado com a choradeira:
- Por que você
chora?
Chico contou o
drama da cunhada, lamentou a situação do sobrinho e foi interrompido por um
sermão do recém-chegado:
- Não. Você está
chorando por seu orgulho ferido. Você aqui tem sido instrumento para cura de
alguns casos de obsessão, para a melhoria de muitos desequilibrados. Quando
aprouve ao Senhor que a provação viesse para debaixo de seu teto, você está com
o coração ferido, porque foi obrigado a recorrer à assistência médica, o que,
aliás, é muito natural. Uma casa de saúde mental, um hospício, é uma casa de
Deus.
Chico ouviu as
críticas em silêncio, mas, entre um soluço e outro, pediu a recuperação da
cunhada o mais rápido possível. O discurso se estendeu:
- Imaginemos a
Terra como sendo o Palácio da Justiça, e a mulher de José como sendo uma pessoa
incursa em determinada sentença da justiça. Eu sou o advogado dela e você é
serventuário do Palácio da Justiça. Nós estamos aqui para rasgar ou para
cumprir o processo?
- Para cumprir –
respondeu Chico e, ainda aos prantos, insistiu:
– O senhor tem que saber que
ela é minha irmã também.
Emmanuel perdeu a
paciência de vez:
- Eu me admiro
muito, porque, antes dela, você tinha lá dentro, naquela casa de saúde,
trezentas irmãs e nunca vi você ir lá chorar por nenhuma. A dor Xavier não é
maior do que a dor Almeida, do que a dor Pires, do que a dor Soares, a dor de
toda a família que tem um doente. Se você quer mesmo seguir a doutrina que
professa, em vez de chorar por sua cunhada, tome o seu lugar ao lado da criança
que está doente, precisando de calor humano. Substitua nossa irmã e exerça,
assim, a fraternidade.
Chico engoliu o
choro, enxugou o rosto e abraçou o sobrinho.
texto“Engolindo choro” de Marcel Souto Maior retirado do livro As vidas de Chico Xavier.
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