Gérard Anaclet Vincent
Encausse, conhecido nos meios místicos como Papus, foi um dos maiores
estudiosos das ciências ocultas do século 19. Sua genialidade e dedicação
marcaram sua vida, e ele deixou um vasto conjunto de obras que abrangem os
vários caminhos que levam o homem a se conectar à sua natureza divina.
Existem homens sobre os quais não basta simplesmente dizer quando
nasceram, ou o que fizeram durante sua existência física. Seu trabalho segue em
tantas direções e possui um impacto tão profundo no saber da humanidade, que é
necessário ir além do relato biográfico.
Papus é um desses homens, mas como temos de iniciar num ponto,
façamo-lo a partir de seu nascimento. Ele veio ao mundo no dia 13 de julho de
1865, em La Coruna, Espanha. Sua mãe era uma Cigana Espanhola, Irene Perez, Seu
pai, Louis Encausse, era um químico francês.
Dessa forma, ele já nascia tendo no sangue a magia do povo cigano
unido à tradição química francesa, que, por sua vez, tinha profundas origens na
Alquimia europeia do século 17. Em sua casa também viveu num ambiente favorável
ao estudo das artes divinatórias, como o tarô e o estudo da alma humana.
Pode-se dizer que a espiritualidade em Papus veio do berço.
Em 1869, mudou-se com a família para Paris, onde iniciou seus
estudos regulares no colégio Rollin. Sua inclinação para a medicina surgiu
ainda jovem e, aos dezessete anos, foi para a famosa Faculdade de Medicina de
Paris. Ainda assim, apesar de toda sua dedicação nos estudos da razão e das
ciências em sua essência mais materialista, não se afastou dos conhecimentos
esotéricos.
Na verdade, ele nunca se afastou do ocultismo, o que pode ser
verificado a partir dos relatos de alguns companheiros da época. Enquanto
muitos jovens estavam vivendo a intensa efervescência política pela qual
atravessava a Europa, ele passava grande tempo na Biblioteca Nacional de Paris
ou na Biblioteca do Arsenal (que possuem imensos acervos de obras ocultistas)
estudando tudo que pudesse revelar os caminhos da alquimia e da cabala e o
conhecimento para se atingir o saber das Chaves Divinas.
Além da agitação política, no século 19, a Europa também vivia um
grande florescimento esotérico, uns cem números de sociedades filosóficas
surgiam e algumas delas se destacaram, como a Sociedade dos Filósofos Desconhecidos,
fundada por Louis Claude de Saint-Martin um século antes, e na qual Papus teria
recebido sua iniciação ao Caminho. Segundo documentos da época, Papus foi
iniciado por Henri Delaage, em 1882.
Nessa sociedade, ele se destacaria por sua genialidade e intensa
disciplina, o que o levou rapidamente a integrar o círculo interno da
organização. Isso ocorreu num período que abrange dos dezessete aos vinte anos
de idade, o que é um feito e tanto para alguém tão jovem.
Aos vinte e dois anos, escreveu sua primeira obra, que se tornaria
um marco para todos que pesquisavam a base das ciências ocultas no ocidente: o
Ocultismo Contemporâneo.
Mas ele não parou por aí: aos vinte e cinco anos, já era uma
celebridade na França e conhecido em vários países, tendo publicado Tratado
Elementar de Ciências Oculta, Tarot dos Boêmios, Tratado Metódico de Ciência
Oculta, A Cabala e Tratado Elementar de Magia Prática.
Esse ímpeto de conhecer, estudar e se aprofundar em todas as
ciências não tardaria a levar o jovem Papus a uma jornada literária. Escrevendo
continuamente durante várias décadas, sua produção chegaria a mais de 160
títulos, abordando todos os campos do conhecimento ocultista e médico.
Sua mente agitada e a intensa dedicação ao estudo do oculto
levaram-no a fundar uma nova sociedade de estudos. A ideia era que esse grupo
não apenas complementasse sua ânsia de aprender, mas também reunisse pessoas
que estivessem sintonizadas com os grandes ideais da humanidade e divulgassem a
espiritualidade. Foi assim que, em 1889, surgiu o Grupo Independente de Estudos
Esotéricos (GIDEE), que mais tarde se tornaria a conhecida Escola Hermética.
Papus também iniciou a publicação das famosas revistas A Iniciação
e Véu de Ísis, que divulgavam estudos e textos sobre as ciências ocultas e
estabeleciam um contraponto ao materialismo que tomava de assalto as
instituições de ensino, tanto na França quanto em outros países, com o objetivo
declarado ou não de acabar com as trevas da ignorância espiritualista.
Mais Que um Médico
Apesar de toda sua dedicação ao mundo ocultista, Papus não
abandonou suas obrigações como médico e trabalhou nos hospitais de Paris.
Defendeu sua tese de medicina - A Anatomia Filosófica e Suas Divisões, a qual
foi elogiada pela profundidade e clareza com que foi elaborada.
Posteriormente, defendeu outra tese, chamada Compêndio de
Fisiologia Sintética, tão elogiada nos meios acadêmicos quanto a anterior. Sua
dedicação à medicina e seus escritos de fisiologia mostravam um homem que
absorvia tanto saber quanto era produzido pelo mundo.
Nos sábios de tempos passados ele foi buscar os caminhos da cura e
das ciências perdidas. O grande Paracelso( Médico e Alquimista Alemão do Século
16) foi um exemplo para o jovem buscador que, assim, iniciou uma série de
viagens pela Europa, percorrendo bibliotecas, questionando estudiosos do oculto
e os homens da razão. Conheceu curandeiros, médicos, teve contato com a
homeopatia e estudou tudo o que lhe caísse às mãos. Sem preconceitos, foi até
os limites da ciência, por mais obscura que fosse. Além de procurar compreender
os princípios mecânicos do funcionamento do corpo, Papus tentava, por meio da
cabala e da alquimia, descobrir outros aspectos da saúde e da cura, antevendo
nas ciências ocultas a chave para o tratamento dos males que afligiam a
humanidade.
Existem curas creditadas a ele que beiram o milagroso. Diz-se que
ele sabia das doenças, causas e reações dos pacientes sem que estes lhe
dirigissem a palavra, assombrando a todos com a exatidão de suas observações. E
muitos casos se resolviam enquanto Papus conversava com seus pacientes: dores
sumiam, mal-estares desapareciam, sem a utilização de remédios.
Para analisar um doente e dar o diagnóstico, Papus analisava seu
campo astral e, depois, usava uma técnica semelhante às técnicas energéticas
orientais; ele aplicava uma "força-vital" que reequilibrava a psique
e a fisiologia da pessoa, restabelecendo a saúde do doente.
Segundo seus escritos, existiam as doenças do corpo (material), do
astral (mental) e do espírito (espiritual), e para cada uma delas existe um
conjunto de técnicas e remédios possíveis. Por exemplo, as doenças do corpo
podem ser curadas pela medicina dos contrários (alopatia); já as doenças do
astral são tratadas pela homeopatia; as doenças do espírito são curadas pela
força da oração e da magia, desde que o problema não tenha nascido como
resultado de uma questão Cármica, pois isso está fora da alçada apenas do
curador: o paciente deve ser parte ativa na cura, e o curador age apenas como
um guia.
A Medicina Oculta (os conhecimentos que permitem agir além do
plano físico na cura dos pacientes) era parte integrante das técnicas de Papus,
pois é relatado que ele curava a distância, usando para isso objetos
pertencentes aos doentes, fossem suas excreções ou objetos próximos a eles;
além disso, diagnosticava usando seus dons paranormais, que iam da
clarividência a viagens a distância, provavelmente usando seu corpo astral.
Praticou de tudo. Conectou-se a linhas de trabalho que iam da
alopatia à hipnose. Pode-se dizer que foi o percussor do "holismo",
pois não dispensava uma análise integral do ser humano para achar a causa das
doenças, e as tratava como algo mais do que uma disfunção física, mas sim como
uma questão que envolvia os corpos sutis em comunhão com o universo físico.
Os Grandes Mistérios do
Mundo
Além de estudar e praticar os aspectos mais obscuros das ciências
místicas, Papus procurava conhecer o legado da antiguidade egípcia e os
mistérios dos gregos e romanos.
Concluiu que, na verdade, o bem-estar do homem e o seu grau de
desenvolvimento material refletiam o quanto este estava envolvido com a
Iniciação aos planos superiores de existência.
Dessa forma, ele acreditava que a máxima dita no Templo de Delfos
- "conhece-te a ti mesmo, que conhecerás o Universo e os deuses" - seria
a grande chave mística para toda a humanidade e para a cura dos grandes males
que a assolam.
O nome Papus - que significa "o médico da primeira hora"
-, foi baseado em um nome que surgia na conhecida obra Nuctameron, escrita pelo
sábio da Antiguidade, Apolônio de Tiana. E é um nome que representa muito bem o
que foi a vida de Papus, pois também significa aquele que não mede sacrifícios
para cumprir o seu papel de curador e conselheiro, estando preparado para
ajudar o próximo a qualquer hora.
Papus se consagrou ao estudo de como a chamada Luz Astral (chi,
para os chineses; energia astral, para os praticantes da New Age) age em nossos
corpos, e do papel da mente e suas relações com o homem. Suas pesquisas
incluíam fenômenos hipnóticos, espíritas e parapsicológicos, sempre com o
objetivo de unir a mais alta razão científica aos mistérios do ocultismo.
A Escola Hermética, a qual fundara anos antes, reunia os mais
famosos ocultistas de que se tem notícia, numa época áurea da humanidade em que
tantos desbravaram a antiga sabedoria do mundo místico e esotérico. Homens como
Stanislas de Guaita, Sedir, Barlet, Peladan, Chamuel, Marc Haven, Maurice
Barres, Victor-Emile Michelet, entre outros, fizeram parte do grupo de Papus, e
esses estudiosos recrutavam outros membros para a ordem, criando uma rede de
pessoas dedicadas à elevação da humanidade com um todo.
Papus faleceu em 25 de outubro de
1916, aos 51 anos de idade. Seu maior legado foi uma vida inteira dedicada aos
seres humano e, especialmente, voltada para explorar os caminhos do espírito,
sempre demonstrando imensa compaixão e amor pelo conhecimento e pelo próximo.
No Templo de Umbanda Mensageiros
de Oxalá, Papus é um de nossos Mentores Espirituais, que nos orienta em
trabalhos espirituais de grandes dificuldades (magia), na disciplina vivida
pelos médiuns e na consolidação dos trabalhos de cura na Linha do Oriente.
Pesquisa de Marcelo Gomes
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